O Tempo da negação: Amanhã é tarde demais!
- Psicólogo Luís Caldeira
- 30 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Podemos considerar que é relativamente unânime, que o tão procurado “excelente desempenho escolar” é obtido através da correlação de muitos fatores e variáveis, entre a Escola, os Alunos e a Família.

A família, desde o nascimento da criança, tem o dever de proporcionar um ambiente amoroso, confortável, com exigência, com coerência na gestão das recompensas e promover o respeito pelas figuras de autoridade. No entanto, já refletimos na anterior publicação, que a gestão desta balança nem sempre é fácil.
A escola, por outro lado, tendo em conta as aprendizagens, deve posicionar-se no princípio das desigualdades justas e não, no princípio das igualdades injustas. É importante ter em conta que a escola, ao considerar que cada Aluno tem uma forma específica de aprender, consegue criar justiça nas aprendizagens, levando os Alunos a percorrer estratégias e metodologias diferentes que possibilite a todos os Alunos alcançarem os mesmos objetivos e claro, não colocando de parte o esforço que os profissionais devem implementar para estabelecer uma relação pedagógica positiva com os Alunos, pois esta é uma alavanca para qualquer aprendizagem.
Por outro lado, o Aluno(a) para ter sucesso académico, deve desenvolver competências nas três dimensões, do saber-saber, saber-fazer e saber-ser/estar, além da disciplina e resiliência para aprender e aplicar conhecimentos. Deve ainda apresentar competências pessoais que o ajude a adaptar-se aos diferentes contextos, proporcionando sempre um contributo positivo. Esta é a característica dos indivíduos brilhantes, altruístas e empreendedores que constroem um mundo melhor, e que, obrigatoriamente, passa por saber adaptar-se aos diferentes perfis de cada professor.
Pelo facto do Aluno(a) receber uma advertência ou chamada de atenção de um professor ou qualquer profissional escolar com humildade, numa perspetiva de querer melhorar e fazer cada vez melhor, revela maturidade e capacidade de estabelecer relação em momentos adversos. Pelo contrário, se o Aluno(a) adota um posicionamento de que o mundo é obrigado a adaptar-se às próprias interpretações/vontades e que não existe necessidade de criar empatia, torna-se um gatilho para o insucesso e frustração, não apenas no percurso académico, mas ao longo da vida.
Infelizmente, existem por vezes situações em que, estes 3 alicerces, o Aluno, a Família e a Escola, por mais que se esforcem, não conseguem corresponder às expectativas, o que traz um impacto muito prejudicial a todos os intervenientes no processo.
Torna-se fundamental estarmos atentos a algumas perturbações da infância e que tanto perturbam as aprendizagens, tais como a Perturbação de Hiperatividade / Défice de Atenção (PHDA) e a Perturbação Especifica da Aprendizagem, onde se inclui a Dislexia, Discalculia e Disortografia. Sabemos que se trata de um tema sensível, por tratar-se de Perturbações que afetam os próprios filhos. Nem todos os casos de PHDA são falta de educação por parte dos pais, nem todas as situações de agitação motora ou de muita energia se enquadram na PHDA, pelo que, os diagnósticos efetuados por psicólogos ou pedopsiquiatras e as recomendações de professores e outros profissionais não devem ser desvalorizados ou negligenciados pelos pais.
É importante salientar que diversos estudos, nomeadamente um que juntou 175 estudos publicados entre 1977 e 2013, nos indicam que existe uma prevalência de 5,4% de casos de Dislexia em crianças do 1º ciclo (Vale, et, al. 2011) e uma prevalência de 7,2% de casos de PHDA (Thomas, et, al. 2015). Inclusivamente, dos casos de PHDA diagnosticados, cerca de 25% a 40% estão em comorbilidade com a Dislexia. São números suficientemente significativos para considerar que existe uma forte probabilidade, de existirem pelo menos duas crianças com estas perturbações por cada turma.
O Diagnóstico nos dias de hoje, através de Avaliação Psicológica com aplicação de testes psicométricos com elevado grau de sensibilidade e fidelidade, demonstra com clareza o funcionamento executivo e cognitivo da criança, possibilitando intervir nas potencialidades e fragilidades, bem como aplicar o DL 54/18 às necessidades da criança. Refletindo neste argumento, arrisco-me afirmar que a avaliação psicológica é útil para todas as crianças, até para os excelentes Alunos!
Por esta razão, um diagnóstico atempado, torna-se fundamental para a intervenção e o treino de competências com técnicos especializados. É determinante os Encarregados de Educação atuarem de forma assertiva e proativa, confiando nos profissionais. A adoção do caminho da negação por parte do Encarregado de Educação, não se apresenta como uma solução e sim como fator promotor do agravamento da situação. Adotar uma perspetiva que o problema se resolve com o tempo, receando que uma avaliação psicológica vai criar um rótulo e acreditando em mitos associados à administração de medicação para evitar a procura de ajuda de um psicólogo ou pedopsiquiatra, coloca em risco a própria criança e pode trazer consequências catastróficas, tanto para a vida académica, como para a vida pessoal e social da mesma e de toda a família.
Por todas estas razões, tal como a promoção da humildade melhora o carácter e a capacidade de renúncia é a base do altruísmo, evitar a negação também impede que seja tarde demais.
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